Dirigentes causaram prejuízos e aumentaram mais uma vez o endividamento dos principais clubes nacionais, agora em mais de R$ 8 bilhões, enquanto receitas continuam a concentrar
Não havia momento pior para o futebol brasileiro entrar em colapso – se é que esta hora existe. A pandemia do novo coronavírus travou o esporte, como outros mercados no país e no mundo, mas a situação financeira dos clubes vinha em péssimo e decadente estado.
O GloboEsporte.com compilou e padronizou os dados das principais agremiações brasileiras, todos oriundos das demonstrações financeiras e contábeis publicadas por elas mesmas. No decorrer das próximas semanas, serão publicadas análises individuais e coletivas.
Em 2019, o faturamento da elite do futebol brasileiro aumentou para R$ 5,7 bilhões. Poderia ser uma boa notícia para o mercado, mas as razões não são agradáveis para a maioria dos dirigentes e torcedores.
O gráfico abaixo tem como padrão as receitas combinadas dos 24 principais clubes na temporada: os 20 que disputaram a primeira divisão do Campeonato Brasileiro e os quatro promovidos da Série B.
Em 2019, excepcionalmente, constam dados de apenas 20 clubes, pois Avaí, Chapecoense, CSA e Coritiba descumpriram a legislação brasileira e não publicaram seus balanços até a publicação desta reportagem.A evolução do faturamento do futebol brasileiroBloco dos 24 clubes mais importantes do país arrecadou mais em 2019, porém aumento esteve concentradoEm R$ bilhões (corrigidos)4,24,25,65,65,45,45,35,35,75,72015201620172018201900,511,522,533,544,555,562015
Em R$ bilhões 4,2
Fonte: Balanços financeiros
Importante: ao comparar cifras em séries temporais, é necessária a correção da inflação. O blog usa o IPCA para levar os números a valor presente (dezembro de 2019). Isso reduz o impacto da desvalorização da moeda e indica somente o crescimento real ao longo dos anos.
Quando separadas de acordo com a origem do dinheiro, as receitas dos clubes demonstram os seguintes comportamentos:
- Direitos de transmissão subiram pouco com o novo ciclo do Brasileirão e premiações maiores em Copa do Brasil e Libertadores
- Patrocínios estão estagnados há muitos anos. Na temporada passada, a Caixa interrompeu seus gastos publicitários no futebol
- Bilheterias e associações também ficaram no mesmo patamar para a maioria dos clubes na comparação com o ano anterior
- Transferências de jogadores respondem pelo maior aumento constatado entre 2018 e 2019 e puxaram o futebol brasileiro
Caso os números do bloco sejam divididos de acordo com os clubes, fica mais claro como a melhora do futebol em termos de receita não inspira otimismo. Na verdade, a maior parte do aumento está concentrada em poucos clubes. Se Athletico-PR e Flamengo fossem desconsiderados do quadro, praticamente não teria havido reajuste entre 2018 e 2019.O perfil do faturamento no futebol brasileiro em 2019Televisão responde por praticamente 40% da arrecadação dos clubes; vendas de jogadores por outros 25%Direitos de transmissão: 2,2Marketing e comercial: 0,8Torcida e estádio: 1,1Outros: 0,2Transferências de atletas: 1,4Direitos de transmissão
Em R$ bilhões 2,2
Fonte: Balanços financeiros
As contas dos clubes não fecharam mais uma vez, e os prejuízos registrados por eles viraram dívidas ainda maiores. Só em 2019, o endividamento deste bloco aumentou em cerca de R$ 1 bilhão em relação ao ano anterior – em ritmo superior ao das receitas.
Há muito mais destaques quando a notícia é ruim. Botafogo, Cruzeiro e Atlético-MG, os líderes em termos de dívidas, pioraram muito suas situações individuais e são os que mais devem no país. Corinthians, São Paulo, Santos e Internacional também se destacam negativamente.
No caso das dívidas, não é necessária a correção dos valores por um índice como o IPCA. Juros, multas e encargos acrescidos anualmente pelos credores retiram o impacto da desvalorização da moeda.A evolução do endividamento do futebol brasileiroDívidas dispararam em quase R$ 1 bilhão, ainda por cima do ritmo superior ao aumento das receitasEm R$ bilhões6,36,36,66,6777,17,18,18,12015201620172018201901234567892016
Em R$ bilhões 6,6
Fonte: Balanços financeiros
De maneira geral, todos os tipos de endividamento tiveram seus quadros agravados na temporada passada. Em linhas gerais:
- Dívidas bancárias aumentaram e são perversas, pois carregam juros e geralmente representam antecipações de receitas
- Parcelamentos fiscais, principalmente o Profut, caíram um pouco em relação ao ano anterior. Atrasos e juros prejudicaram, no entanto
- Dívidas trabalhistas estouraram. Atrasos em salários correntes e ações judiciais elevaram os compromissos em mais de R$ 600 milhões
- Dívidas com clubes, agentes e fornecedores também registraram aumento, embora dirigentes não tivessem dinheiro para gastar
O perfil do endividamento do futebol brasileiro em 2019Equilíbrio não é virtude neste caso: clubes têm dívidas gigantescas de todas as formasBancário: 1,8Fiscal: 2,4Trabalhista: 2,4Outros: 1,5Fiscal
Em R$ bilhões 2,4
Fonte: Balanços financeiros
As análises individuais das finanças dos 30 principais clubes brasileiros serão publicadas pelo GloboEsporte.com nas próximas semanas. A lista abaixo será atualizada para que sirva de índice para esta reportagem especial. Clubes que não divulgaram seus balanços terão suas contas analisadas assim que cumprirem a lei e os disponibilizarem ao público.
- América-MG
- Athletico-PR
- Atlético-GO
- Atlético-MG
- Avaí (ainda não publicou balanço)
- Bahia
- Botafogo
- Bragantino
- Ceará
- Chapecoense (ainda não publicou balanço)
- Corinthians
- Coritiba (ainda não publicou balanço)
- Cruzeiro
- CSA (ainda não publicou balanço)
- Guarani
- Figueirense (ainda não publicou balanço)
- Flamengo
- Fluminense
- Fortaleza
- Goiás
- Grêmio
- Internacional
- Palmeiras
- Paraná
- Ponte Preta
- Santos
- São Paulo
- Sport
- Vasco
- Vitória (ainda não publicou balanço)
Fonte: Globoesporte.com